terça-feira, 1 de março de 2011


Atuação de Natalie Portman é ponto alto de 'Cisne negro'

Mas filme sofre com efeitos especiais e expedientes do suspense em um drama, o que não combina com o desempenho contido da atriz


A atuação de Natalie Portman em Cisne negro é realmente arrebatadora, inspirada, impecável. Vai do sutil a um (por vezes) necessário “overacting” num piscar de olhos. Seu ótimo desempenho, é claro, deve-se em parte à segura direção de atores de Darren Aronofsky (vide Mickey Rourke em O lutador , 2008). Infelizmente, deve-se a também ele – e a seus três roteiristas - alguns pontos fracos do filme que, tentando não entregar muito do enredo, comento adiante.

Portman vive Nina, jovem bailarina cujo sonho de perfeição é reflexo (doentio) direto da “mão pesada” de sua mãe autoritária, Erica (a ótima Barbara Hershey, quase irreconhecível pós-plástica), uma mulher que desconta na filha a frustração de ela mesma ter abandonado os palcos para criá-la.

Nina tem um grande desafio pela frente: com a “aposentadoria” forçada da primeira bailarina de sua companhia, Beth (Winona Ryder), ela tem a chance de viver o papel principal do clássico O lago dos cisnes. Thomas Leroy (Vincent Cassel), o diretor do grupo, vê nela a bailarina perfeita para o papel do delicado Cisne Branco. Mas para o segundo papel, do Cisne Negro, percebe que sua fragilidade quase infantil – outra “herança” da mãe – a impede de explorar o lado mais sombrio do espetáculo.

Aronofsky, que já havia dado a entender que tinha um pé na metafísica no estranhíssimo Fonte da vida (2006), parece retornar a ela ao retratar o crescendo de loucura de sua protagonista. E aí peca com imagens que não combinam com a atuação contida e precisa de Portman. Falamos aqui não só de efeitos especiais (!), mas também de expedientes que nos lembram mais um filme de suspense do que um drama. Ou ainda... um drama nos moldes de Roman Polanski, em início de carreira, num filme como Repulsa ao sexo. E esse é só um dos filmes que parecem ter “influenciado” Cisne negro...

E mais: o interessante enredo, que mistura relações familiares, sexualidade, as ilusões e desilusões da arte etc., perde parte do impacto com suaves, mas constantes tintas “moralizantes” e maniqueístas. De Réquiem para um sonho(2000) pra cá, parece que Aronofsky ficou... careta.

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